Existe a Kathleen Hanna, existe um abismo e existe a Rúvila. Sim, eu sei. Apesar de ser um bebê perto do maior nome do Riot Grrrl, resolvi falar um pouco sobre o novo disco da banda The Julie Ruin, comandada por ela. O Hit Reset foi oficialmente lançado no dia 8 de julho e é o segundo álbum da banda.
Quem não conhece o som de The Julie Ruin ou de Le Tigre e escuta pela primeira vez, pensando apenas na Kathleen Hanna de Bikini Kill, pode achar bastante diferente e até estranho. No entanto, escutando com atenção você vai perceber que não é tão estranho assim. Esta é mais uma forma, um tanto mais leve e até mais animada, de falar sobre temas que defende.
Quer um exemplo? Vamos escutar juntos a ótima “I’m Done”:
“And you still don’t seem to know
That I’m not here you to please you
Or beg on my knees
Or be the villian on your show
And I can’t, and I won’t, and I don’t
Even hear you”
(“E você ainda não parece ter percebido/ que eu não estou aqui para agradá-lo/ ou implorar de joelhos/ ou ser a vilã na sua história/ e eu não posso, não vou e/ nem mesmo te escuto”)
“I’m Done” relembra muito as músicas de Bikini Kill em que Kathleen grita na cara dos homens dizendo que não vai mais aceitar merda de ninguém. É a melhor mensagem que ela poderia deixar para a nova geração de mulheres feministas. Estão tentando te apagar? Abusando de você? GRITE. Não aceite.
No disco não faltam músicas sobre empoderamento (“I’m Done”, como você pode ver acima, “Hello Trust No One”), relações abusivas (“Be Nice”), egoísmo (“Planet You”) e homens tentando protagonizar o feminismo (“Mrs. So and So”).
Nas minhas pesquisas me deparei com muitos textos que falam sobre como o álbum é muito autobiográfico. Existe um documentário chamado “The Punk Singer” que conta a história da Kathleen Hanna desde a época de Bikini Kill até os momentos atuais. Ela passou longos anos, desde o final de Le Tigre até mais ou menos 2012, desaparecida dos holofotes da mídia. Ela esteve bastante doente neste período e ficava em casa sob os cuidados do marido. Esse período pode ser o que inspirou a música “Let Me Go”.
A música “Calverton” – que eu sinceramente não consigo escutar por conta da tristeza que ela me passa – fala um pouco da sua infância super barra pesada. A música é supostamente para a sua mãe, que lidava com um marido e pai violento.
O prêmio de música favorita do álbum vai para “I Decide”. Foi a primeira que eu escutei do disco, lançada em um lyric vídeo incrível com a maravilhosa Katie Crutchfield, também conhecida pela banda/ projeto Waxahatchee, andando pelo festival SXSW. A mensagem é simples e direta: a vida é sua e as decisões também.
O conjunto da obra em “Hit Reset” é incrível. Um indie rock-pop repleto de hits e músicas fortes, cheias de poder e significado. É mais um disco daqueles que você pode colocar várias músicas na sua playlist Grrl Pwr e compartilhar com as amigas porque só empodera e faz bem para alma. Quem não quer sair por aí cantando que vai tomar suas próprias decisões?
E agora você pode ouvir o álbum na íntegra no Spotify: