Quando soube que a banda espanhola Hinds viria fazer show em São Paulo, fiquei super feliz porque teria a oportunidade de ver uma banda que eu amo tocando um álbum que eu amo praticamente na íntegra. Corri aqui no blog para ver o que eu já tinha escrito sobre elas e fiquei bastante triste quando eu percebi que ela nunca havia sido uma pauta grande por aqui (embora o álbum “Leave me Alone” tenha sido eleito como um dos melhores de 2016 por mim), mas resolvi aproveitar a oportunidade para falar sobre o show também.
Tudo começou lá em 2011 com as amigas Carlotta Cosials e Ana Perrote que começaram a tocar violão juntas, fazendo algumas músicas cover de artistas que gostavam, na cidade de Madrid (Espanha). Elas foram ficando melhores nos seus instrumentos, evoluindo, então resolveram que se chamariam Deers e fariam suas próprias músicas. No começo até conseguiram gravar algumas coisas revezando os instrumentos, mas viram que para fazerem shows precisariam de outras pessoas para tocarem junto com elas, foi aí que chamaram a amiga Ade Martin para o baixo e encontraram Amber Grimbergen para a bateria. Ao lançarem algumas coisas no YouTube, ainda como dupla, descobriram que o nome Deers já estava sendo usado por uma banda então passaram a ser Hinds, que é o nome da fêmea do cervo (deer, em inglês).
Foi em 2014 que elas começaram a tocar mais ativamente, lançar singles, vídeos e viajar pelo mundo em turnês. Apesar de espanholas, elas cantam em inglês e talvez seja isso que fez com que elas ficassem mais populares fora da Espanha. Ganharam visibilidade na mídia com críticas positivas feitas por veículos como as revistas musicais NME, Pitchfork e o jornal The Guardian. Também integraram o setlist de diversos festivais musicais na Europa. Se antes do primeiro álbum sair as meninas já estavam ganhando relevância no cenário musical, imaginem quando o “Leave Me Alone” foi lançado em 2016? Sucesso instantâneo.
As integrantes são jovens (todas na casa dos 20 anos) e querem se divertir. Isso reflete em todos os aspectos, desde as letras das músicas, o conteúdo que elas divulgam nas redes sociais até a postura delas no palco. O show conta com várias coreografias e brincadeiras (você pode ver nos vídeos abaixo, filmados por mim então perdoem a qualidade do vídeo porque foram feitos no celular mesmo).
Os clipes também são muito divertidos e alegres. Meu favorito é o de “Davey Crockett”:
Antes e depois dos shows elas falaram com os fãs muito animadamente, tiraram fotos, aprenderam palavras em português e até beberam com quem levou bebida para elas (não faltaram garrafas de Catuaba no Sesc Pompeia). Em nenhum momento elas assumiram aquela famosa pose arrogante de rockstar, pelo contrário, o tempo todo elas foram simpáticas, espontâneas e estavam focadas em tocar suas músicas de uma forma super animada e divertida.
Em uma sociedade que dita o que as mulheres devem fazer, ser e querer, ver uma banda de garotas jovens tocando um rock autoral, animado e livre é muito inspirador. É um daqueles shows que quando acaba já me dá uma vontade de comprar uma guitarra e começar a minha própria banda com as minhas amigas.
Entre suas referências musicais, as Hinds citam The Strokes, Black Lips, Ty Segall, The Parrots, The Vaccines e Mac DeMarco. O som que elas fazem é um indie rock que fica entre garage rock e garage pop (as músicas novas que elas tocaram no show, que estarão no segundo álbum, podem ser consideradas ainda mais pop que o material já lançado). A produção musical da banda é independente, apesar de estar ligada a selos musicais (Lucky Number, Burguer Records, Mom + Pop), as decisões e meios de produção são administrados por elas e, querendo ou não, a iniciativa Do-It-Yourself da banda reflete em uma estética e sonoridade lo-fi.
Apesar de ser uma banda formada apenas de garotas, elas rejeitam o rótulo de girl band e desejam ser respeitadas pela música que fazem. Não precisam ser colocadas em uma categoria especial de rock de mulher, assim como Sleater-Kinney antes delas, querem ser vistas e conhecidas como uma banda de rock, como qualquer outra, porque são capazes de tocar tão bem quanto qualquer outro grupo composto por homens e não aceitam ser menosprezadas apenas pelo gênero das integrantes. Elas rejeitam o rótulo de “girl band” mas não rejeitam nenhuma ideia feminista. Em entrevista para o Diário de Pernambuco, estado onde fizeram show também, a vocalista e guitarrista Carlotta Cosials afirmou que desapontaria a todos que esperam um estereótipo de mulheres perfeitas e comportadas. Confira o vídeo que elas fizeram em uma campanha contra o assédio em Madrid.
“Leave Me Alone” (2016)
O primeiro álbum das Hinds já começa com um aviso: “me deixa em paz”. É direcionado a todos aqueles que acham que podem inventar regras sobre como garotas precisam se comportar ou fazer música. Elas vão fazer tudo do jeito delas.
A música de abertura é “Garden”, minha favorita. Também foi com ela que começaram o show em São Paulo. A abertura forte e marcante, que combina contrastes de acordes graves, baixo marcado e solos agudos com melodias vocais menos convencionais, mostra o estilo da banda. Elas não vão passar despercebidas.
A música já dá o tom que o álbum inteiro tem. Os temas frequentemente são relações amorosas – boas, ruins, de uma noite só – e ambientadas em clima de festa, diversão e muitos drinks. A dinâmica entre os vocais é um diferencial da banda. Ela mostra o quanto Ana e Carlotta estão entrosadas e bem ensaiadas. As guitarras também seguem as melodias vocais que se entrelaçam, passam uma por cima da outra, vão em direções opostas até se encontrarem novamente.
O próximo álbum das Hinds será lançado em 2018 e já estou ansiosa para ver que direção a banda vai tomar daqui para frente, mas acredito que virão coisas boas se elas continuarem tocando com amor e se divertindo enquanto fazem isso.
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